Ao operar os movimentos da cartografia, é preciso reconhecer que o terreno não é plano. Existe uma inclinação gravitacional provocada pela axiomática do capital. A cartógrafa raramente encontra uma organização em equilíbrio neutro; ela encontra um corpo sob tensão de forças econômicas que integram os agenciamentos.
A tendência primária dessa gravidade é a captura. O sistema econômico exerce uma pressão constante para converter fluxos criativos e qualitativos em métricas quantitativas de controle e lucro. Isso cria uma inércia natural que puxa a organização em direção ao maciço cristalino. Mesmo que a cultura declare desejar a inovação, a gravidade do capital exige previsibilidade e propriedade, incentivando a criação de novos silos, hierarquias e mecanismos de controle para proteger o valor extraído. Frequentemente, o trabalho da cartógrafa será atuar contra essa força, abrindo fendas na estrutura para permitir que a vida respire.
Contudo, é crucial entender que o capitalismo não opera apenas através da ordem. Para crescer, a máquina social precisa destruir mercados antigos e criar novos desejos, promovendo processos violentos de desterritorialização quando lhe convém. Nem toda quebra de regras é emancipatória. Fenômenos como a uberização demonstram como o capital pode destruir o território do escritório e a rigidez do contrato de trabalho não para dar autonomia, mas para impor uma precariedade algorítmica. Ocorre uma desterritorialização que isola o trabalhador, retirando a proteção do grupo sem oferecer a liberdade real do indivíduo.
Outro exemplo é a inovação predatória, onde startups operam em vácuos legais quebrando todas as regras do setor. Muitas vezes, isso não é uma linha de fuga ativa que cria novos modos de existência, mas uma estratégia para estabelecer monopólios ainda mais vorazes. A cartógrafa precisa ter a sutileza clínica para distinguir a desterritorialização que gera autonomia coletiva daquela que apenas desmancha estruturas para intensificar a exploração.