Embora utilizemos os parâmetros de Territorialização e Codificação como ferramentas de ajuste funcional, a cartógrafa deve estar ciente de que esses movimentos, quando levados aos seus limites absolutos, deixam de ser configurações operacionais e tornam-se vetores de destruição. A organização caminha sobre um cume estreito, ladeado por dois abismos fatais.

O primeiro é o abismo da petrificação, que ocorre na territorialização e codificação absolutas. Este é o desejo de ordem levado à sua última consequência, resultando no fechamento total de todas as linhas de fuga. A organização tenta saturar todos os espaços de incerteza, vigiando cada movimento e prescrevendo cada minuto, tratando o fora como uma ameaça existencial. O risco aqui ultrapassa a mera burocracia; trata-se de uma estrutura totalitária. O corpo organizacional torna-se um corpo cheio e cancerígeno, onde os indivíduos perdem qualquer autonomia vital e a tentativa de eliminar o risco acaba por eliminar a própria vida. É a paz de cemitério onde nada dá errado simplesmente porque nada acontece.

No extremo oposto encontra-se o abismo da dissolução, marcado pela desterritorialização e descodificação absolutas. É o desejo de liberdade que perdeu a conexão com o corpo social. Quando todas as fronteiras e regras são desmanchadas, o desejo circula em estado puro, mas sem capacidade de se acoplar a nada. Torna-se uma linha de morte onde a energia é tão intensa e desgovernada que pulveriza a organização. Sem um mínimo de território que confira identidade e um código que permita linguagem comum, não há grupo, apenas átomos colidindo no vácuo. A organização não inova, ela evapora ou enlouquece, gerando uma dispersão onde ideias brilhantes duram segundos e não constroem nada. A saúde organizacional não está em conquistar a pureza de um dos lados, mas em navegar na zona de viabilidade entre esses dois perigos.