Para entender como a organização ganha forma, estabilidade e identidade, utilizamos os parâmetros de Territorialização (T) e Codificação (C) da teoria dos agenciamentos de Manuel DeLanda.
A identidade de qualquer Agenciamento não é uma essência fixa, mas o resultado da regulagem de dois parâmetros variáveis, como se fossem botões em um painel de controle.
Nosso interesse é entender como uma montagem funciona e quais afetos ela produz — as Fontes e Drenos que ela gera e quais Forças Ativas e Reativas ela alimenta — para, a partir disso, manipular essas variáveis e produzir uma nova configuração.
Territorialização — Definição de Fronteiras
Este parâmetro define quão nitidamente delimitada e homogênea é a identidade do agenciamento. Refere-se às fronteiras que distinguem o “dentro” do “fora” e a coesão dos seus elementos.
Na alta territorialização, as fronteiras são nítidas e a identidade é forte. O agenciamento se protege e cria intimidade entre seus elementos. Em grupos, pode produzir sentimento de “nós”, espaços exclusivos, proteção do time e foco profundo. Em excesso, pode gerar isolamento e suspeita de tudo que vem de fora.
Na baixa territorialização, as fronteiras são porosas e o agenciamento se mistura com o ambiente. É típica de contextos de inovação aberta, vendas, comunidades distribuídas e redes que precisam de capilaridade. Em grupos se manifesta como circulação livre, diversidade de perfis, integração com clientes e parceiros externos. Em excesso, pode gerar dispersão e sensação de não-pertencimento.
Codificação — Determinação de Comportamento
Este parâmetro define o grau de rigidez com que o comportamento interno é prescrito e fixado. A codificação opera através de um código que formata os fluxos para garantir repetibilidade.
Na alta codificação, o código determina o comportamento para garantir segurança, escala e qualidade. Não há espaço para desvios perigosos. Exemplos organizacionais incluem checklists de cirurgia em hospitais, protocolos de privacidade em produtos digitais, automação industrial, políticas de compliance em serviços financeiros, contratos de franquia e acordos claros de qualidade em redes de educação.
Na baixa codificação, o código é aberto, permitindo adaptação e improviso. A regra nasce da prática, sendo frequentemente usada para lidar com o inédito e o complexo. É a tônica de laboratórios de P&D, equipes de produto em fase exploratória, coletivos artísticos ou grupos de trabalho temporários que precisam experimentar formatos antes de fixá-los.
Critérios para uma boa estabilização
Como cartógrafa, o interesse não é aumentar ou diminuir T e C em abstrato, mas encontrar configurações que produzam mais Fontes de Potência e contenham os drenos necessários. Alguns critérios práticos:
- Proporcionalidade ao risco: Quanto maior o risco de dano material ou simbólico, mais faz sentido uma territorialização/codificação alta. Onde o risco é baixo, o excesso de controle tende a produzir forças reativas e drenar potência.
- Revisabilidade: Um bom arranjo é aquele cujas fronteiras e códigos podem ser revisitados quando os afetos se tornam predominantemente tristes (drenos) ou quando as forças reativas sufocam as ativas.
- Respiração entre dentro e fora: Mesmo formações mais fechadas (maciço cristalino) precisam de canais de troca com o entorno. Uma boa estabilização permite que linhas de fuga criadoras atravessem o território sem destruí-lo.
Em resumo, uma boa combinação de territorialização e codificação é aquela que gera predominantemente afetos alegres (fontes de potência) e contém os afetos tristes necessários para proteger o coletivo, sem permitir que as forças reativas triunfem sobre as ativas.