O mapa da cartógrafa é uma ferramenta de reflexividade. Ele torna visíveis os Enlaces que a própria cartógrafa cria ao entrar em um Agenciamento e as intervenções que dispara ao longo do processo.

Seu objetivo é evitar a ilusão de neutralidade, reconhecer a cartógrafa como um dos Atuantes e acompanhar os efeitos políticos do próprio trabalho cartográfico.

Quando usar

  • Em processos de consultoria mais longos, onde a presença da cartógrafa passa a alterar significativamente o campo;
  • Quando é importante prestar contas sobre o processo de intervenção (para o próprio grupo, para pares ou para si mesma);
  • Como instrumento de cuidado ético, ajudando a cartógrafa a não naturalizar os efeitos que produz.

Como montar um mapa da cartógrafa

  1. Escolha o recorte temporal: todo o processo de consultoria ou um ciclo específico (por exemplo, do diagnóstico inicial até a prototipagem de uma intervenção).
  2. Liste as principais presenças e ações da cartógrafa:
    • entrevistas realizadas, oficinas facilitadas, devolutivas, recomendações, protótipos co-desenhados;
    • decisões sobre o que mapear, que conceitos mobilizar, que vozes convidar.
  3. Para cada ação, registre:
    • quais Atuantes foram tocados;
    • que novos Enlaces foram criados ou fortalecidos (de composição, decomposição, captura, linha de fuga);
    • que afetos emergiram (em si e no grupo): entusiasmo, alívio, resistência, medo, ressentimento.
  4. Visualize essas ações em um diagrama (por exemplo, sobreposto a um Mapa de Enlaces ou a um Mapa Genealógico), marcando os pontos em que a cartógrafa entrou e como o campo respondeu.

Perguntas para ler o mapa da cartógrafa

  • Em quais momentos minha presença funcionou como Fonte de Potência e em quais funcionou, ainda que involuntariamente, como Dreno?;
  • Que tipos de enlaces tenho privilegiado (com lideranças, com equipes de base, com ferramentas, com narrativas)?;
  • Onde posso ter reforçado dispositivos de dominação que eu pretendia questionar?;
  • Que intervenções abriram novas linhas de fuga criadoras e quais apenas redistribuíram a mesma captura?

Ao sustentar um mapa da própria implicação, a cartógrafa honra a ideia de que não há neutralidade na cartografia organizacional. O mapa torna possível um exercício contínuo de ajuste ético e político do trabalho, em favor do aumento da Potência coletiva.